quinta-feira, 20 de setembro de 2012

'Avenida Brasil' trata o espectador como se fosse burro


O autor e os roteiristas da novela das nove da Globo estão forçando a amizade com o público. Através das ações dos personagens, a história faz com que as pessoas tenham de esticar demais a boa vontade para que tudo fique passável.
Vamos por partes. Nina é uma jovem toda antenada, esperta, conectada, certo? O que então justifica que ela não tenha cópias digitais das fotos que incriminam Carminha e Max? Qualquer pessoa, hoje em dia, teria as imagens em papel e também dentro de e-mails secretos protegidos por senhas. Ou que tal usar um álbum fechado no Facebook para isso? Dá para garantir que ela teria mais segurança do que em qualquer cofre de banco. Seria praticamente impossível a vilã colocar as mãos nas imagens.
A outra parte tem a ver com Tufão. Os roteiristas forçam demais a mão na ingenuidade do personagem. Não é possível que esteja acontecendo um turbilhão de fatos em torno do ex-jogador de futebol e ele não perceba isso. Pode-se argumentar que Tufão é uma pessoa de bom coração e que acredita nas pessoas, especialmente em sua família. Mas também é abusar da boa vontade dos espectadores. Ninguém pode ser tão ingênuo ou tão burro assim ao mesmo tempo. Já era para o personagem ter descoberto boa parte dos eventos ou mesmo que alguém já tivesse revelado a ele alguns elementos da trama.
Todas estas forçadas de barra acabam por minar um pouco o excelente trabalho do autor nos meses iniciais de Avenida Brasil. A novela vinha mostrando muito realismo, um roteiro bem feito e intrincado e uma história forte. Apelando dessa maneira, a trama perde parte do brilho e da audiência também.
Claro que tudo isso é feito para esticar o roteiro de Avenida Brasil. Aliás, esse é um mal do qual padece o autor João Emanuel Carneiro. Ele é, sem dúvida, um dos grandes escritores de novela da atualidade, mas acaba se perdendo ali pelo meio da trama. Carneiro revela cedo demais vários dos elementos-chave da história e aí acaba tendo de encher linguiça até o clímax que encerrará sua história. E isso não é um problema apenas de Avenida Brasil. Aconteceu o mesmo em A Favorita, outra novela sua que fez sucesso mas que teve de forçar ao máximo a abstração do público e apelar para a boa e velha enrolação.
*Odair Braz Junior é crítico do R7 e suas opiniões não refletem necessariamente as do portal. 

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